23/12/2012

do coração I







Gosto de ti. Gosto de ti como gosto de acordar cedo, para ver o nascer do sol; gosto de ti como gosto de beber café com leite e apreciar os primeiros raios de sol que trespassam os meus dedos e fazem sombras nas paredes da minha casa; gosto de ti como gosto de ler um livro muitas e muitas vezes; gosto de ti como gosto de amar o amor; Gosto dos teus olhos verdes, são os olhos mais bonitos do mundo. E que me fazem sorrir - são da cor da menta e da cor da relva regada e acabada de cortar. E gosto da tua alma, tão livre. Que voa. Que vai, e que vem. Como o vento de inverno. Como aquela folha resistente do verão, que, vendo as outras a mudarem as suas bonitas tonalidades para amarelo, laranja e castanho se mantém verde - és a minha folha resistente de outono, e o meu anjo da guarda, que volta sempre e me aquece o coração; que eu não procuro, porque ele volta sempre, com um balão na mão que, quando rebenta, liberta as borboletas das mais diferentes cores, tonalidades e feitios. Gosto de ti como gosto de ir à praia; gosto de ti como gosto do mar, no seu movimento de abraço à areia - ele volta sempre para ela.
Mas hoje, hoje é diferente. Hoje, neva no meu coração. Neva como neva lá fora; mas, não um nevar reluzente, ao qual estou habituada. Este, é um nevar sombrio, pesado, vazio. É um nevar que engole todo o sol existente no meu coração; que faz todas as flores semeadas no solo se recolham, à espera que tempos melhores cheguem. E os pássaros ficam mudos. Calados. Não mais cantam. Não mais ousam aquecer o meu coração com melodias complicadas e agudas, de bons-dias. Limitam-se a cair no chão, com os olhos fechados, com os bicos fechados; com a alma falecida, num silêncio mortal e eterno. O meu coração tornou-se assim, num lugar gélido e sem vida, como se alguém tivesse agarrado numa enorme esponja e tivesse espremido todo o amor existente neste orgão. E assim fiquei, por muito tempo. Entregue às trevas, entregue à dor e aos corredores escuros e sinuosos de uma casa abandonada; assim, fiquei entre quatro muralhas, quatro muralhas pintadas de preto - fiquei presa no meu coração.
Volta - imploro-te. É tarde. Tenho um frasco com pirilampos, bolachas e uma caneca de leite quente à tua espera. Está na hora da tua alma de pássaro voltar para mim e está na hora de aqueceres o meu coração - está na hora de me ensinares a amar, outra vez.  
E, desgastada, cansada, gélida e com uma manta por cima, sentada à janela, a ver a neve, no seu movimento dançante, a abraçar o chão, vou estar aqui sempre, a revestir as paredes do meu coração, com bonitas pétalas de rosas e borboletas, à tua espera. O meu coração é todo teu - eterno, belo, envenenado e gélido. Vou amar-te até à eternidade, até que os pássaros deixem de cantar e as folhas deixem de cair. Vou amar-te até que todo o amor do meu coração escorra pelo peito. Enquanto isso não acontece, aproveita-o, pois ele não dura para sempre, apesar de ser eternamente teu. Por isso, lembra-te:
Hoje, amor, dei-te o meu coração.

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