12/10/2012

chove, lá fora



Sabes, tenho saudades de ver o teu lindo sorriso estampado nesse teu rosto bonito, com esses olhos verdes e essas maçãs do rosto, rosadas; tenho saudades de ver o teu cabelo comprido a ondular ao vento; tenho saudades de sentir a profundidade do teu olhar, a largura do teu sorriso e o quão castanho é o teu cabelo; tenho saudades de ver a espuma do mar a enrolar-se na areia; tenho saudades de ver as folhas de outono nas suas tonalidades castanhas a cair, tão bonitas; tenho saudades de ver o vento a soprar na minha janela, com força, e tenho saudades de ver a chuva a cair - sobretudo, tenho saudades de ti. De nós. Do que somos, ou, na realidade, do que éramos.
Estou arrepiada : lá fora, chove. Chove mesmo com força. Presumo que as nuvens estejam chateadas e embatam umas nas outras. E, por isso, estejam a chorar. Ou então estão apenas a demonstrar o seu descontentamento em relação à tua partida. Elas têm saudades tuas. Quando te vinham a chegar, lá ao longe, cessavam; logo formavam um belo arco-íris que, se não soubesse o quão duro é o mundo, poderia dizer que, do outro lado desse bonito arco-íris, estaria um duende, sentado em cima de um pote de oiro. Mas eu sei como é o mundo. Sei como é a triste realidade lá fora. Sei que os arco-íris já desapareceram e que os pássaros já não cantam como cantavam. Nem sequer me pousam na mão, como dantes pousavam. Será que eles conseguem sentir uma alma morta, e um coração partido? Será que conseguem sentir que as minhas pernas vão abater a qualquer momento, e que só respiro porque o meu coração continua a bater? Será que eles se afastam da morte? Será que tu tens alma de pássaro, e que te afastaste de mim porque a pressentiste, mais feroz que nunca? 
A tua alma é livre e voa, como bonitos passarinhos. Por falar nisso, nunca mais vi os tais passarinhos. Será que voaram contigo? Tenho medo que tenhas voado para longe.  Que a tua alma tenha voado, para sempre - e que não haja retorno. Mas não sejamos pessimistas porque, afinal, tudo o que vai volta. Mas... E se chegaste ao fim do mundo, desprezando os limites normais da humanidade? E se o mundo não for redondo? E se, por contrário, for quadrado? Tal como o meu coração, neste momento? E se te perdeste em infinitos mares de escuridão, e estradas de saudades - tal e qual como o meu coração? O meu coração, anteriormente bonito, perdido agora, entre véus negros e noites escuras; perdido agora, entre saudades mal curadas - perdido, para sempre. E se te perdeste, meu amor? 
Neste momento, toda eu sou tristeza; toda eu sou nostalgia e toda eu sou enumerações e pontos e vírgulas; na realidade, estou mais perdida que a própria perdição, mais sozinha que a própria solidão e, acima de tudo, por entre mares de sangue, saudade e lágrimas deitada, afogada, mergulhada.  Afinal, isto são tudo nostalgias de uma manhã de chuva. Uma manhã em que a chuva está mais forte do que nunca; uma manhã em que sinto saudades de pronunciar o teu nome; uma manhã em que preciso, desesperadamente, do teu sorriso, perto de mim, como se o pudesse arrancar e trazê-lo sempre comigo; uma manhã em que grito o teu nome pelos muros que construí no meu coração; uma manhã em que gritos por entre paredes dançam, desprezando a dor que o meu coração suporta; uma manhã - oh, uma bela manhã, em que pronuncio o teu nome - uma manhã em que me lembro que, nem sequer, já te lembras do meu.