23/06/2012

behind a mirror


De phones postos, observei a linha do comboio à minha frente.
Não havia muita gente lá perto, pois já só lá passavam uns dois comboios de meia em meia hora. As únicas pessoas perto passeavam pelo passeio de pedestres do outro lado da rua, preocupas consigo e com os seus problemas, não falando com ninguém e andando em grupos pequenos. Um normal dia de Primavera.
 A estação era decrépita e enferrujada. Passavam lá poucos comboios que, normalmente, eram de carregamento de mercadorias. Suspirei alto.
Filosóficamente falando, para que é que eu sirvo? Porque nasci? O que estou a fazer aqui? Valerei algo para alguém?
Não. Então porque continuo aqui sentada, resignada ao que se passa à minha volta? Porque continuo sem expressão no rosto? Porque estou demasiado infeliz para chorar? Porque não consigo deitar uma lágrima?
O meu coração há muito deixou de bater, há muito tempo. Há muito tempo que ele deixou de estar juntamente com a minha alma. Eles foram como unha e carne : podem estar juntos e estarem bem, terem a máxima força, ou estarem separados e precisarem um do outro - a minha alma precisava de completar o meu coração. Mas nada resultava. Faltavam-me os sorrisos, faltavam-me as lágrimas - estava apática.
Suspirei outra vez. Eu não estava preparada para o que ia acontecer. A culpa não é minha. Eu não escolhi nascer. Porque tenho de aguentar com tudo isto? Odeio a minha vida, odeio-me a mim, odeio as pessoas. Sinto-me mal, sinto-me sozinha, sem apoio.
Consultei o relógio da estação: faltavam cinco minutos para a chegada do próximo comboio. Levantei-me, desci as escadas e caminhei até à linha de caminhos de ferro.
Estava cansada, muito cansada - não fisicamente. As minhas pernas pareciam caminhar sozinhas para a linha do comboio, como se lá fossem encontrar um ponto zen, um ponto de conforto.
Pousei a mala num banco ali perto e encarei o meu destino de frente. Um sorriso aflorou os meus lábios quando vi o comboio cruzar a esquina. Fechei os olhos e senti o vento ondular os meus cabelos - estava feliz. Uma sensação de leveza apoderou-se de mim e pela primeira vez na minha vida, senti-me em paz e sem dor.
Ia morrer feliz.

3 comentários:

  1. está perfeito, nádia, estou anciosa de ver o seguinte capítulo!

    ResponderEliminar
  2. fiquei sem palavras. amo amo amo
    está perfeito meu amor

    ResponderEliminar
  3. tu : 'Valerei algo para alguém?'
    eu : para mim, muito. ♥
    /mm.

    ResponderEliminar